Gente, em “Admirável mundo novo”, que teve sua primeira edição lançada no ano de 1932, o escritor inglês Aldous Huxley fez sua aposta de como seria a sociedade num futuro longínquo. O romance é ambientado no ano de 632 d.F (numa era que tem como marco inaugural o lançamento do modelo Ford-T no mercado automobilístico, o que se deu no ano de 1908 do nosso calendário cristão). Os valores cultuados pela sociedade “novomundense” são resultantes dos “ensinamentos” deixados por Ford, que consistiam no individualismo empreendedorístico e na busca pelo ganho de tempo e redução do custo de produção. Um mundo em que o consumismo é fonte de prazer. Um tempo marcado pela padronização dos objetos e, por conseqüência, dos gostos, hábitos, preferências e costumes. Os seres humanos não apenas produzem e consomem artigos manufaturados, industrializados etc., eles mesmos, os seres humanos, passam a ser meros artefatos reificados. Produção em série e padronização: são estes os lemas do “admirável mundo novo”. O indivíduo, enquanto unidade psicossocial, é inteiramente anulado para que se dê lugar a seres-coisas que são produzidos aos lotes. Como isso é conseguido? Basicamente dois procedimentos se encarregam de produzir os seres humanos adequados à sociedade que preza pela estabilidade e pela uniformidade acima de todas as coisas. O primeiro desses procedimentos é o que recebe o nome de Método Bokanovsky, responsável pela padronização de homens e mulheres em grupos uniformes. Esse método, definido como “o princípio da produção em série aplicado à biologia”, consiste em induzir artificialmente a replicação de uma mesma célula-ovo até 96 vezes: “noventa e seis gêmeos idênticos fazendo funcionar noventa e seis máquinas idênticas”. Isso num mundo em que não há mais reprodução natural. Os seres humanos são todos produzidos em laboratório. A fabricação desses seres humanos já é, desde o início, concebida de modo a adequar os procedimentos empregados a cada “lote” de acordo com a finalidade social que deverá ser cumprida pelas futuras criaturas. A sociedade é rigidamente dividida em castas (que vão da Alfa-Mais até a Ípsilon-Menos, passando pela Beta, Gama, etc.). Dessa forma, os bebês bokanovskizados são submetidos a tratamentos bioquímicos correspondentes à casta para a qual estão previamente predestinados. Por exemplo, “quanto mais baixa é a casta, menos oxigênio se fornece ao bebê em formação. O primeiro órgão afetado é o cérebro. Nos Ípsilons não precisamos de inteligência humana”, porque em geral eles são destinados ao cumprimento de funções que não requerem potencial intelectual, mas que necessitam alguma dose maior de resistência física. Por essa razão, aqueles seres que seriam futuramente operários de siderúrgicas, desde os primeiros momentos de sua “decantação” e “condicionamento” já eram submetidos ao calor extremo, a fim de desenvolver resistência e acostumar o corpo à exposição a altas temperaturas. “O segredo da felicidade e da virtude é amarmos o que somos obrigados a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social de que não podem escapar”. O preparo biológico do indivíduo, portanto, é feito de acordo com a utilidade social para a qual ele será “condicionado”. Após todo esse processo de fabricação, os seres saem devidamente programados dessa linha de produção, que não apenas promove o condicionamento físico, mas também se encarrega do adestramento cognitivo dos indivíduos. E aqui chegamos ao segundo procedimento, que, juntamente com o Método Bokanovski, é o responsável pela fabricação de seres uniformes e adequados a uma sociedade que preza pela estabilidade e pela previsibilidade. Esse outro procedimento são as sessões de terapia hipnopédica, “a maior força moralizadora e socializante de todos os tempos”, utilizada para “inculcar as formas de comportamento mais complexas” que deveriam ser reproduzidas pelos seres em suas vivências sociais. A hipnopedia era uma ferramenta do “Curso de Consciência de Classe”, por meio do qual as crianças, tal como hardwares ocos, receberiam a programação condizente com sua finalidade social, enquanto componente utilitário pertencente a um todo coletivo. Eis um exemplo de hipnopedia aplicada às crianças Beta. “Distendidos pelo sono, oitenta meninos e meninas respiravam suavemente. Debaixo de cada travesseiro saía um murmúrio: ‘as crianças Alfas vestem roupas cinzentas. Elas trabalham muito mais do que nós porque são formidavelmente inteligentes. Francamente, estou contentíssimo de ser um Beta, porque não trabalho tanto. E além disso somos muito superiores aos Gama e aos Deltas. Os Gamas são broncos. Eles se vestem de verde, e as crianças Deltas se vestem de cáqui. Oh, não, não quero brincar com crianças Deltas. E os Ípsilons são ainda piores. São demasiado broncos para saberem ler e escrever. E além disso se vestem de preto, que é uma cor horrível. Como sou feliz por ser um Beta. As crianças Alfas vestem roupas cinzentas. Elas trabalham muito mais do que nós porque são formidavelmente inteligentes. Francamente, estou contentíssimo de ser um Beta...’ Eles ouvirão isso repetidamente mais quarenta ou cinqüenta vezes antes de acordarem; depois outra sessão na quinta-feira e outra no sábado. Cento e vinte vezes, três vezes por semana, durante trinta meses. Depois disso passarão a uma lição mais adiantada”. O diretor de incubação explica que esse procedimento não é exatamente como gotas de água, “conquanto esta na verdade seja capaz de cavar buracos no granito mais duro; mas, antes, como gotas de lacre derretido, gotas que aderem e se incorporam àquilo sobre o que caem, até que, finalmente, a rocha não seja mais que uma só massa escarlate. Até que finalmente o espírito da criança seja essas coisas sugeridas, e que a soma dessas sugestões seja o espírito da criança. E não somente o espírito da criança, mas também o adulto, para toda vida.” Ao final de todos os módulos de hipnopedia, as crianças já terão se convertido em seres suficientemente previsíveis e totalmente adequados a uma sociedade devidamente estabilizada. “Cada um trabalha para todos. Até os Ípsilons são úteis...” Este é um trecho de uma sessão hipnopédica destinada às crianças Alfa, que em outro estágio aprendem também: “como eu adoro andar de avião, como eu adoro andar de avião, como eu adoro ter roupas novas. As roupas velhas são tão horríveis. Nós sempre jogamos fora as roupas velhas. Mais vale dar fim que consertar...” As vozes adaptam a futura procura à futura oferta industrial. O fato é que essas sessões se encarregam de inculcar nos seres em desenvolvimento os “preconceitos hipnopédicos” correlatos à cada uma das castas a que pertencem. “Fossem quem fossem, agora todos são felizes. ‘Todos são felizes’, tinham ouvido isso cento e cinqüenta vezes por noite durante doze anos”. De modo que um Alfa ou um Beta se sente feliz por não ser um Gama ou um Ípsilon. Todavia, o condicionamento de um Ípsilon não o deixa menos satisfeito por não ser um Beta ou um Alfa. Nesse mundo, cada um se sente devidamente ajustado ao lugar para o qual fora predestinado e condicionado. Um Ípsilon jamais quererá ocupar o lugar de um Alfa porque seu condicionamento o faz ter aversão ao modo de vida de um Alfa. Em dado momento de seu condicionamento, os Ípsilons são submetidos a experiências que resultam em traumas associados à altura, por exemplo. Sendo assim, eles se sentem em situação privilegiada relativamente aos Alfas que, em virtude de seu poder aquisitivo, se deslocam preferencialmente de helicóptero. Sem conceber que os Alfas foram condicionados de outro modo e que, portanto, eles não padecem de nenhum tipo de fobia de altura, os Ípsilons consideram que para os Alfas andar de avião é uma experiência tão dolorosa quanto seria para eles, e da qual estão livres porque, na condição de Ípsilons, eles só se deslocam por transportes terrestres. Seria exagerado comparar essas sessões de hipnopedia, descritas por Huxley, às estratégias de cooptação que são postas em prática pelos veículos de comunicação de massa? Em que medida nossos comportamentos não são condicionados pelos apelos a que somos expostos diuturnamente? Será que não estaríamos submetidos a mecanismos de sedução e alienação que são utilizados como meio de disseminação de conteúdos ideológicos que visam a nos adestrar via imaginário? Em que medida programas infantis como o “Show da Xuxa” e que tais não seriam espécies de hipnopedia para a domesticação de crianças e sua conformação à sociedade de consumo? Não seriam os “baixinhos” de ontem os consumidores de hoje? E o Jornal Nacional, que repete, como um mantra, seus preconceitos contra os governos de esquerda e os movimentos sociais, ao mesmo tempo em que exalta os EUA como paradigma de civilização desenvolvida; não seria esta também uma forma de corromper consciências? A hipnopedia televisiva tenta, a todo custo, nos convencer de que Hugo Chavez é ditador, de que o PT é o partido mais corrupto do Brasil, de que os EUA são um paraíso, de que Cuba não presta, de que tem banco que é feito para a gente, de que maionese é mais saudável do que azeite, de que a falecida dona da Daslu era uma distinta senhora que nunca cometeu nenhum crime, entre tantas outras sandices. E aí, essas mentiras todas e você têm tudo a ver. Ó Wall!!!
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domingo, 28 de julho de 2013
Será que todo mundo pede biz?
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Unknown
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14:39
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