INAUGURAÇÃO DO BLOG

05 de JULHO de 2010

Visualizações

AUTOR DO BLOG

AUTOR  DO  BLOG
Estervalder Freire dos Santos - Ó Wall; sou blogueiro desde 2010. Terminei o Ensino Médio em 1988, não tenho Ensino Superior, Criei o Blog Só Pudia Ser Ó Wal com a ajuda dos amigos: Cristiane Sousa, Ibermon Macena, Jackson Douglas, Junior Cunha e Rodrigo Viany. Sou totalmente eclético só para expor minhas ideologias.... O blog possuí muitos textos, mas nada especifico, acredito que sejam um pouco de tudo e pouco do nada, mas também há outros. Divirta-se.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Isso aqui dá zanga!

Gente, outro dia em uma das minhas caminhadas obrigatórias entre um trabalho e outro dei uma paradinha na banca do jornal para ver, sem pagar nada, as notícias do dia. Não que eu seja daqueles que nunca compram revistas ou jornais, longe disso, é que às vezes me falta tempo (dinheiro). Vocês sabem como é! Pois bem, entre uma revista de fofoca e outra que eu propositalmente ia ignorando já que não me interessam, estavam as imagens mais grotescas que eu já vi na minha vida. A priori eu pensei que meus olhos me pregavam uma peça. Será que eu não havia acordado ainda? Não era possível que aquelas fotos horrendas estivessem sendo vendidas como notícia. Meu Deus, se eu fosse uma pessoa do “estômago forte” eu teria sentido vontade de vomitar e se eu fosse uma pessoa do “estômago fraco” teria vomitado ali mesmo em cima daquele jornal (se é que aquilo pode ser chamado assim). Talvez assim aquele monte de papel iria parar no lugar dele: o lixo. Mas como não sou nem um nem outro, sou oval, aquele redondo achatado nos polos. Gente, me deu vontade de alardear minha indignação com tamanha crueldade, falta de ética, desumanidade, selvageria, falta de hombridade... Vou tentar descrever com fidelidade a edição memorável do dia 13 de maio de 2012, a qual eu iria encontrar coincidentemente, para meu desgosto, na sala de espera do meu criente dois dias depois e finalmente decidir escrever sobre tal. No topo da página com fotos modestas duas chamadas políticas tentam iludir os leitores de que se trata de um jornal como outro qualquer. Logo em seguida, a manchete principal, na cor vermelha é claro, já anunciava qual seria o foco do mesmo: sangue. Assassinatos disparam na capital. O danado do redator ainda foi inteligente com o trocadinho da palavra disparam reconheço, mas isso não o redime de exibir logo abaixo, como se fossem os mais badalados da coluna social do Pergentino Holanda, seis rostos de cadáveres em situação no mínimo assombrosas, mas temi que muitos pensassem se tratar de um exagero da minha parte e resolvi não torturá-los então. Os cadaveres tinham os olhos abertos, o algodão no nariz, a expressão cianótica, os hematomas, as ataduras, o sangue, os algodão com sangue na terceira foto da esquerda para a direita no jornal, todas as fotos com o intuito evidente de chocar, de banalizar a morte e de vender a tragédia e as mazelas sociais como entretenimento, como catalizador da sede de sangue que os seres humanos demonstram ter desde os tempos de Caim, ou mesmo das sangrentas batalhas entre gladiadores, onde o povo vibrava assistindo à morte dilacerante de pessoas que lutavam entre si ou contra feras no vergonhoso Coliseu. Ou ainda nas execuções públicas que eram verdadeiros eventos sociais em épocas remotas e ainda hoje em países onde vigora a pena de morte. Em tempos vigentes temos exemplos aos montes. Como as lutas mutiladoras de algumas modalidades esportivas (é, isso é considerado esporte) exibidas em qualquer canal de televisão, jogos de vídeo game cada vez mais sangrentos, e ainda pasquins como este que não se constrange de usar de uma receita tão antiga que expõe o pior dos seres humanos. Eu sempre achei, até por observar em mim mesmo, que nós adoramos uma tragédia. Fingimos que nos comovemos, colocamos a mão na boca em atitude de espanto, levamos a mão aos olhos tentando não ver, mas sempre com a preocupação de entreabrir os dedos o suficiente para não perder nada, fazemos esses joguetes, mas no fundo, nem tão fundo assim, adoramos. Basta pensar na multidão que se ajunta facilmente ao redor de um acidente nas vias públicas. Nas fotos de pessoas mortas em condições trágicas que circulam de celular em celular como se fosse uma coisa linda de se ver. Nas rodovias, já vi gente interrompendo a viagem, encostando para dar a famosa “marocada” (expressão ludovicense equivalente à bisbilhotar, espiar com curiosidade). Mais o mais impressionante é a expressão decepcionada que alguns fazem quando interrompem seu caminho para marocar e percebem que não há nenhuma vítima fatal ou gravemente ferida. Parecem dizer: “Droga perdi meu tempo e não vi ninguém morto, nenhum pedaço do corpo humano espalhado, nenhuma víscera exposta. Logo vi, não tinha ambulância e só esse pingo de gente. Que acidente fraco, sem graça. Ralado!” Desde quando desgraça tem graça, gente? Para os seres humanos parece ter. Mas querem saber a maior ironia, bem acima de toda essa exposição que de divina não tem nada, o jornaleco exibe a frase: Se Deus é por nós quem será contra nós? Que tipo de apelo divino é esse? Se vocês pensam que acabou, preparem-se para ler um pouquinho mais. Pois logo abaixo com a manchete “Homem é trucidado por dívida de R$ 15 reais”, um close exibe a foto de um jovem de 24 anos jogado no chão com a mão debaixo do rosto como se tivesse tirando uma soneca depois do almoço, a foto também mostra policiais e repórteres conversando enquanto o corpo jaz ignorado no chão. Sabe o que eu fico me perguntando? E se fosse um parente meu? Meu irmão quem sabe? O que será que eu iria sentir quando olhasse sua imagem ser tratada com tanta delicadeza? Você pode pensar, ah, mas são bandidos! Se fossem só bandidos ainda não justificaria, mas eles não seguem nenhum protocolo, pois numa edição mais antiga vi a foto de uma funcionária pública morta por assaltantes que invadiram sua casa e lá estava o cadáver da senhora inchado, com os seios à mostra, como se sua vida nada representasse e ela depois de morta passasse a ser um quilo de carne exposta no açougue da esquina. Isso aqui dá zanga. Deveria ser o nome desse jornal. Na mesma página um homem é exposto morto numa Avenida de João pessoa (sic) e uma aula de biologia, anatomia, neurologia, e principalmente covardia, o cérebro de um homem vítima de uma colisão supostamente ocorrida na BR 230 sentido Norte é colocado sob a vista de todos nós. Eu considerei essa foto um atentado ao bom senso e à nossa humanidade. Pelo amor de Deus. Fui mostrar esse jornal para uma amiga de trabalho na hora do almoço e ela está sem falar comigo até hoje por fazê-la perder o apetite. E mesmo sem querer nem ao menos abrir o jornal, o conteúdo se mostra ainda mais macabro. Pois o homem que na capa aparece como que tirando um cochilo, dentro do jornal é exposto seminu sendo colocado num esquife do IML que nem na morte teve dignidade esse pobre! Mais em baixo, na mesma página interna um operário que não bastasse morrer em acidente de trabalho, tem seu rosto exposto com chamada sutil: “Operário morre esmagado por parede.” E num show de criatividade, bem embaixo segue uma publicidade de uma churrascaria, acreditem, um estabelecimento onde se serve carne no bairro do Geisel. Em tempos onde os noticiários dão conta de pessoas que recheiam salgados com carne humana, e logo acima seres humanos são apresentados como peças de carne, ou na melhor das hipóteses um presunto barato, impossível não tornar-se vegetariano imediatamente. Acho que os jornalistas que trabalham neste jornal devem se sentir realizados em prestar tamanha contribuição à sociedade. Para uma coisa tenho que tirar o chapéu. São espertos o suficiente para colocarem a foto do prefeito da cidade e de um deputado em preto e branco e as fotos de uma dançarina despida em cores opacas e os astros do jornal, as grandes celebridades, os defuntos, num colorido vivo que não nos deixa duvidar nem por um segundo de que o que vemos é mesmo sangue. O restante desse jornal são propagandas de políticos ou de aspirantes disfarçadas de mensagens para as mães em tamanho gigante, piadas sem graça e entretenimento tedioso, resumo de novelas (página inteira), fofocas intermináveis anúncios publicitários dos quais eu destaco a de um frigorífico (no mínimo irônico). Ainda, a de uma funerária (muitíssimo apropriado). E para finalizar, num jornal onde a vida humana vale tão pouco, um espaço considerável para se tentar localizar um cão desaparecido. Chama atenção a frase apelativa de que o dono é uma criança especial e que está sofrendo muito, a informação de que ele atende pelo nome de Elvis, que se paga recompensa e a quantidade de telefones para contato. Só tem uma informação animadora: a de que esse jornal é semanal, porque se fosse diário... Ó Wal !!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário