Léon Denis amou a Natureza. Em todos os seus aspectos, ela lhe dava notícia de Deus. E ele, por sua vez, se comunicava com Deus através de toda a sua Criação. Desses comoventes diálogos, nasceram paginas ricas de beleza e sabedoria. Diante do mar, por exemplo, ele gostava de ficar contemplativo, e seus amigos espirituais aproveitavam esses momentos para lhe transmitir idéias, que compunham páginas, discursos e livros. Foi assim, numa deliciosa tarde, quando ele navegava, partindo da costa francesa, em direção à África. Observemos aquele pequeno navio, parecendo perdido na imensidão azul do Mediterrâneo. O convés está deserto. Após o almoço, o suave balançar do navio conduziu os passageiros à sesta. Se fixarmos a atenção, no entanto, veremos um viajante solitário que, de pé, no tombadilho, contempla, embevecido, a vastidão líquida, cujos limites se perdem na diáfana linha do horizonte, qual uma enorme “toalha móvel faiscante aos fogos do dia”. Era um instante de calmaria, no qual tudo parecia repousar. Mergulhados na luz, ilhas cabos e praias recortavam suas silhuetas contra o azul. O silêncio da tarde era quebrado, unicamente, pelo “cântico das vagas que acariciam brandamente o casco do navio”. É uma cena transbordante de paz. De fato, ele nos confessa: “em parte alguma senti tal impressão de repouso”, acrescentando que era como se “uma pacificação, uma serenidade, um desprendimento de tudo, o esquecimento das miseráveis agitações humanas, uma dilatação da alma, uma espécie de volúpia de viver, e de saber que se viverá sempre, a sensação de ser imperecível qual esse infinito da Terra e do Céu” o visitassem. Lá se vai o pequeno barco, levando o poeta-filósofo em sua proa, fendendo as águas azuis, deixando as praias da Provence para trás, numa esteira de espuma. Ele termina seu relato dessa tarde, dizendo que se “O Mediterrâneo é encantador sob o céu azulado (...) todos os mares têm o seu prestígio e beleza, quer em seus dias de cólera e de desencadeamento furioso, com a comovente fascinação das vagas espumosas, quer nas horas de calma, com o esplendor de seus sóis poentes”. Alguém poderá, então, pensar: Admirar a beleza do mar quando ele está sereno, tudo bem. Mas será que Denis apreciou, algum dia, a “comovente fascinação das águas espumosas”, numa noite de tempestade? Deixemos que Luce responda, descrevendo-nos uma experiência vivida pelo aplicado vendedor da Casa Pillet, justamente quando ele voltava da Cabília. Ao que parece, aquele era o tempo das grandes aventuras, para Léon Denis. Pois foi assim que aconteceu, “quando ao sair da memorável Cabília, com destino a Tunis, após enfrentar trens sacolejantes, diligências e mesmo lombo de burros, o sempre ativo, curioso e encantado turista chega atrasado ao cais, e como já haviam recolhido a escada, para subir a bordo foi obrigado a agarrar-se, com todas as forças, às cordas que lhe foram atiradas pelos marujos”. Eu penso que é difícil imaginar o Apóstolo do Espiritismo dependurado por cordas, esforçando-se para chegar ao convés de um navio, com os marujos na amurada, certamente animando-o, em seus, quem sabe, desajeitados esforços. Pois foi mesmo dessa maneira atribulada que ele começou uma agradável viagem... até certo ponto. Quando a noite chegou, fortes ventos começaram a soprar, o mar encapelou-se em ondas gigantes, que varriam o convés. A pequena embarcação jogava e estalava perigosamente. Conforme o navio balançava, móveis, cargas e louças rolavam e se quebravam. O ruído era assustador. As mulheres e as crianças gritavam, apavoradas, agarradas às barras de segurança. Os marujos lutavam sem descanso, para manter, tanto quanto possível, o navio sob controle. Antes, porém, que tudo acabasse em tragédia, o mar se acalmou e, pouco a pouco, a situação foi voltando ao normal. Denis sai dessa experiência fascinado, e como não podia estar sempre a viajar de navio, buscava os promontórios da Armórica, para do alto dos penhascos rever o Oceano em suas horas de furor e sentir o solo tremer a seus pés “a cada embate surdo das vagas”. Ao final da narrativa, sentimo-nos um pouco envergonhados de nós mesmos, da indiferença a até do medo que nos paralisa e nos impede de experimentar essa “comunhão íntima”; de mergulhar, como Denis, “na Grande Unidade que a tudo gerou”.
Vendo nossa tristeza, nosso Mestre nos anima, dizendo que os espíritos o inspiraram a escrever o livro “O Grande Enigma”, justamente para nos ensinar isso. (O Mensageiro) Ó Wall!!!
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domingo, 17 de agosto de 2014
O Homem e o Mar
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Unknown
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13:42
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