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sábado, 11 de agosto de 2012
Centenário de Jorge Amado
(Jorge Amado - Foto)
"Não tenho nenhuma ilusão sobre a importância de minha obra", afirmou Jorge Amado.
"Mas, se nela existe alguma virtude, é essa fidelidade ao povo brasileiro."
A intimidade com que expôs traços, costumes e contradições da cultura brasileira foram um dos fatores por trás da popularidade de que Amado desfrutou em vida. Mas no centenário de nascimento do escritor baiano, o reconhecimento sobre a importância de sua obra continua a crescer no Brasil e no exterior. Amado é um dos escritores brasileiros mais conhecidos internacionalmente, com obras publicadas em 49 línguas e 55 países. O interesse aumentou com a aproximação do centenário. Nos últimos três anos, pelo menos 45 contratos foram fechados com editoras estrangeiras para a publicação de seus livros, conta Thyago Nogueira, editor responsável por sua obra na Companhia das Letras. O centenário motivou uma série de seminários e eventos comemorativos em cidades como Salvador, Ilhéus, Londres, Madri, Lisboa, Salamanca e Paris. A reverberação lembra a frase do escritor moçambicano Mia Couto, para quem Amado fez mais para projetar a imagem do Brasil lá fora do que todas as instituições governamentais reunidas. "Jorge Amado não escreveu livros, escreveu um país", afirmou Couto em 2008. Amado nasceu em 12 de agosto de 1912 em Itabuna, na Bahia, e escreveu quase 40 livros, com um olhar aguçado sobre os costumes e a cultura popular do país. Ele morreu em 2001. A fazenda de cacau em que nasceu, os terreiros de candomblé, a mistura de crenças religiosas, a pobreza nas ruas de Salvador, a miscigenação, o racismo velado da sociedade brasileira são alguns dos elementos que compõem sua obra, caracterizada por uma "profunda identificação com o povo brasileiro", diz Eduardo de Assis Duarte. "Ele tinha o compromisso de ser uma espécie de narrador do Brasil, alguém que quer passar o país a limpo", diz o pesquisador. Romance em tempos de utopia. O baiano destacou a herança africana e a mistura que compõe a sociedade brasileira como valores positivos do país. Ele adotava uma postura crítica dos problemas sociais do país e ao mesmo tempo retratava "um povo alegre, trabalhador, que não desiste", diz Assis Duarte. Amado leva para o centro de suas histórias heróis improváveis para seus tempos - um negro, uma prostituta, um faxineiro, meninos de rua, mulheres protagonistas. "Ele traz o homem do povo para o centro do livro. Coloca-o como herói de suas histórias e ganha o homem do povo como leitor", diz Assis Duarte. Tanto a vida quanto a obra de Amado foram marcadas por sua militância no comunismo. Os livros do início de sua carreira eram fortemente ideológicos. "Saíram livros bons dessa fase, mas também livros muito panfletários, maniqueístas, em que os ricos são todos maus e os pobres são todos bons", comenta a antropóloga Ilana Goldstein. O baiano chegou a se eleger deputado em 1945 - seu slogan, lembra Ilana, era "o romancista do povo". Apenas dois anos depois, porém, teve que partir para o exílio na França. Sob pressão da Guerra Fria, o Partido Comunista Brasileiro fora banido e seu mandato, cassado. Durante os cinco anos de exílio, passados com a esposa Zélia Gattai na França e na antiga Tcheco-eslováquia, Amado viajou e ampliou seu círculo de amizades - conheceu Pablo Picasso, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir. Nos anos 1950, época em que os crimes do líder soviético Josef Stalin vieram à tona, Amado rompeu com o partido. Iniciou-se uma nova fase em sua literatura, mais leve e bem-humorada, menos ideológica. Amado gostava de se definir como um "contador de causos". Mais do que explorar novas linguagens literárias, seu objetivo era conquistar leitores e alcançar a massa, diz Assis Duarte. Sua linguagem era coloquial, simples, como a língua falada; sua forma de contar histórias era folhetinesca, com muitos personagens, ápices e acontecimentos. Isso ajuda a explicar a rejeição da crítica acadêmica durante muitos anos. Também ajuda a entender as prolíficas adaptações de sua obra para filmes, novelas, peças e séries de TV. "Sua literatura se aproxima da cultura de massa. São textos que parecem ter sido escritos para serem adaptados", diz Assis Duarte. O escritor amazonense leu Jorge Amado pela primeira vez na escola de Manaus, aos 14 anos. A professora apresentou "Capitães da Areia", logo cativando o interesse da classe ao contar que o livro havia sido queimado em Salvador em 1937, durante o Estado Novo. "Eu era de Manaus, e para mim o Brasil era aquele mundo cercado de água e de floresta. A leitura de 'Capitães da Areia' foi uma revelação de outra paisagem social e geográfica no mesmo país."
Ele afirma quase poder tocar os lugares e personagens quando lê a obra de Amado. "O mundo que ele criou é cheio de personagens muito vivos, de um colorido, uma sensualidade que não é exótica. Quer dizer, é exótica, talvez, para quem não conhece a Bahia ou o Brasil."
JORGE AMADO * 10/08/1912 - + 21/06/2001
Ó Wal !!!
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