João Rasga Rua

(João Rasga Rua - Foto)
Quém em joão pessoa - PB, nunca viu essa figura? Lá vem aquele velho homem devagar, com seus olhos baixos, seu cheiro de rua, seus tormentos. Rasgando as avenidas da cidade com seu saco na cabeça, lá vem o João Rasga Rua. Estatura baixa, barba e cabelos grisalhos, roupas rasgadas, capengando, ele quase não fala. Um tipo esquisito, habitante das ruas, cosmopolita do Centro e de outros bairros de João Pessoa. Quem da minha época não foi menino, para chamá-lo – morrendo de medo, é claro – de Papai Noel, “Véi” do Saco, Vovô “Cheiroso”, daqueles apelidos do tempo de “pirrai”? Lá vem o João, que poderia ser só mais um João, entretanto, em João Pessoa, ser chamado apenas de João, talvez não tivesse o mesmo significado, como tem para o Rasga Rua. Para muitos este “cidadão” não seja ou não tenha, boas referências, tais como, as que a normalidade exige. Porém, é na integra, uma referência significativa do descaso social do Estado brasileiro. Afinal, quantos Joãos Rasga Rua perambulam pelas ruas deste Brasil de meu Deus? Certo de que esse cenário social, infelizmente, é uma constante, aqui não quero me ater a esse quadro, ou ainda ser algoz – pelo menos não agora – das premissas Estatais que comandam nosso país. Quero sim, submeter meu texto a uma ousada analise de uma referência cultural em que se transformou este velhinho. O “nosso” João, enquanto figura urbana e do seu jeito, se apresenta como o saudoso poeta das ruas “Manuel Caixa D’água”. Fico cá com meus botões, me perguntando: como será a nossa cidade no olhar do Rasga Rua? Como será que este senhor empobrecido de esperança, observa a vida cotidiana de João Pessoa? Será que observa? Sei lá, às vezes acho que quero saber demais! A verdade é que quero sim. E estou disposto a quebrar paradigmas acadêmicos, fazer uso de meu autodidatismo nesta ocasião e, principalmente, dispensar o olhar politicamente correto sobre este senhor e sua situação social. O que quero é tentar desvendar “periscópicamente” quem foi, quem é esta figura, na época em ele mesmo sabia quem era? Por exemplo, quantos somam seus anos? Onde nasceu? E, o que um dia fez na vida? Olhando para a estatua do Presidente João Pessoa na praça que leva seu nome, que impressão lhe atina? Onde estava ou o que estava fazendo quando ela foi posta ali? Sem dúvida, o João é surpreendentemente misterioso. E seu mistério fascina. Aguça toda nossa inquietação – pelo menos a minha. Por quanto tempo ainda veremos essa figura desconhecidamente conhecida, rasgando as ruas dos nossos olhares, nós meninos, nós rapazes, nós senhores? Por quantas vezes mais, ele chamará nossa atenção com seu “desposturado” jeito? E, o que terá dentro daquele saco? Definitivamente, não sei! Porém, o que deve ter dentro daquele João é, sem sombra de dúvidas, uma enorme vontade de viver.

ó Wal !!!