O Mensageiro. Continuando... Começou, então, para Pica-Pau uma experiência nova. Distante da esposa, o Dr. Crisanto não era o mesmo homem. Sem dúvida não diminuíra a consideração para com ele, mas estava diferente. Correto na profissão, mudara na vida particular. Noite a noite, o engenheiro, como que faminto de novidade, buscava a cidadezinha próxima e embriagava-se, levianamente, em companhia de supostos amigos. Num certo sábado, porque as horas avançassem madrugada a fora, sem que o chefe voltasse, Pica-Pau fez cinco quilômetros a pé. Procurou, aflitamente, e encontrou-o num bar.
- Doutor – disse ao engenheiro -, vim chamá-lo.
- Que há?
E Pica-Pau engrolou a voz:
- Chegou um portador com notícias de Dona Moema...
O chefe aboletou-se no jipe e os dois viajaram, cada qual com a sua própria ansiedade. Em casa, porém, Pica-Pau falou, desconcertado:
- Doutor, perdoe-me... Não há mensageiro algum... Estava preocupado com o senhor...
O Dr. Crisanto, algo transtornado pelo copo farto, gritou:
- Era o que faltava... Você, dirigindo! Não encomendei fiscalização alguma!... Não me consta que espíritas andem mentindo... Nunca mais faça isso!...
Pica-Pau, humilhado, preparou-lhe o café forte e o assunto ficou encerrado. Entretanto, no sábado seguinte, repetiu-se o problema. Às duas da madrugada, Pica-Pau, arfando de fadiga, ante a longa caminhada, alcança o bar, surpreende o chefe, e avisa, desapontado:
- Doutor, a casa das máquinas está pegando fogo.
O engenheiro, desconfiado, atende; e ambos se põem novamente no jipe. Mas, em caminho, o diretor do serviço fala, nervoso:
- Pica-Pau, se você estiver mentindo, pagará caro...
Chegando à casa das máquinas e observando a tranqüilidade ambiente, fez um gesto interrogativo, ao que Pica-Pau respondeu, encabulado:
- Doutor, reconheço que menti, mas não posso ver o senhor nessa vida...
- Ah! Não me pode ver? – replicou o Dr. Crisanto, irado – Então não veja...
E vibrou-lhe tremendo pescoção ao pé do ouvido. Pica-Pau rodou sobre os calcanhares e caiu com um filete de sangue a escorrer-lhe da boca, mas não reagiu. Lágrimas rolavam-lhe dos olhos, quando viu que o Dr. Crisanto movimentava o veículo de volta ao vilarejo distante. Ó Wall!!! Continua...
INAUGURAÇÃO DO BLOG
05 de JULHO de 2010
Páginas
Visualizações
AUTOR DO BLOG
terça-feira, 31 de março de 2015
Pica-Pau - 4ª Parte
Postado por
Unknown
às
08:35
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
CONTOS
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário