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05 de JULHO de 2010

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Estervalder Freire dos Santos - Ó Wall; sou blogueiro desde 2010. Terminei o Ensino Médio em 1988, não tenho Ensino Superior, Criei o Blog Só Pudia Ser Ó Wal com a ajuda dos amigos: Cristiane Sousa, Ibermon Macena, Jackson Douglas, Junior Cunha e Rodrigo Viany. Sou totalmente eclético só para expor minhas ideologias.... O blog possuí muitos textos, mas nada especifico, acredito que sejam um pouco de tudo e pouco do nada, mas também há outros. Divirta-se.

domingo, 30 de novembro de 2014

O homem por trás do Barril - Roberto Gómez Bolaños, o Chaves

Por: Tarso Araújo
“Você é meu ídolo de infância”. Roberto Gómez Bolaños ouve declarações como essa há décadas. Mas ouvi-la do craque Diego Armando Maradona, emocionado como uma criança recebendo o presente mais desejado em seu aniversário, é uma boa demonstração da popularidade que esse senhor mexicano de 76 anos conquistou com dois de seus maiores personagens: Chaves e Chapolin Colorado. Claro que o encontro deles no programa semanal do argentino, no dia em que ele comemorava seu aniversário de 45 anos, também foi um golaço de audiência. Afinal, os baixinhos – Maradona tem 1,67m e Bolaños 1,62 – são provavelmente os dois maiores ídolos da América Latina. Sim: os programas de Bolaños foram exibidos em mais de 80 países e são reprisados até hoje, com sucesso, como acontece no Brasil há pouco mais de 21 anos. A história do sucesso de Bolaños começou no rádio, antes mesmo da chegada da televisão ao México. Órfão de pai desde a infância, ingressou na faculdade de engenharia elétrica, mas jamais exerceu a profissão. Descobriu antes o gosto pelas letras, na redação de uma agência publicitária, e logo em seguida criando roteiros de humor para o radiofônico “Cómicos y Canciones”. Quando o programa ganhou sua versão televisiva, passou a disputar a liderança de audiência do horário, sempre com o texto de Bolaños. É nesta mesma atração que ele começou sua carreira de ator, “sem querer querendo”, como faz questão de explicar. Em 1958, ele escreveu pela primeira vez para o cinema, e o diretor do filme, impressionado com o talento do baixinho para a dramaturgia, lhe deu o apelido de Chespirito, um diminutivo carinhoso de Shakespeare (“Cheispir”, na pronúncia em espanhol). É com este nome que Bolaños ficaria conhecido internacionalmente. Mas isso ainda estava para acontecer. Em 1968, a emissora Televisión Independiente de México (TIM) o contratou para criar um programa inteiramente seu. E ele lançou um semanal de meia hora de duração chamado “Los Supergenios de la Mesa Cuadrada”. Era uma paródia das mesas redondas, com personagens fixos comentando as notícias do cotidiano, e logo tornou-se mais um sucesso de Bolaños no México, já com alguns atores do futuro elenco de Chaves. O programa durou apenas dois anos, mas serviu para mostrar que, àquela altura, Bolaños tinha se transformado em sinônimo de sucesso. Tanto que seu passo seguinte foi Ter um programa que não só era seu como levava seu nome. Ou melhor, seu apelido. Chespirito, o programa, estreou no México em 1970, no horário nobre das segundas-feiras, às 20h. Com uma hora para fazer o que quisesse, Bolaños criou quadros com diversos personagens e o humor para toda a família que sempre caracterizou seu trabalho, inocente, sem vulgaridades. Assim, nasceram Chapolin Colorado, no mesmo ano, e Chaves, em 1971. Com seu carisma e talento, e um grupo de atores fazendo personagens criados especialmente para eles, Bolaños dominou a audiência do horário. O sucesso só não era maior porque o seu canal, o TIM, não era transmitido em rede nacional. Isso só foi acontecer em 1973, quando a Televisa comprou diversas emissoras e transformou-se na primeira rede de televisão do México. A mudança de emissora teve várias conseqüências. A primeira foi que, graças ao sucesso com as crianças, Chaves e Chapolin viraram programas independentes na Televisa, substituindo “Chespirito”. Em escala nacional, “Chaves” chegou a dar 60 pontos de audiência. O México já parecia pequeno para tanta popularidade. A segunda foi justamente a conquista da América. A Televisa foi criada para operar em todo o mercado latino-americano e, no mesmo ano de sua estréia, começou a exportar seus programas. O primeiro país a exibir “Chaves” fora do México foi o Equador, ainda em 1973. O que nem a Televisa suspeitava é que “El Chavo del Ocho” (nome original do programa) faria tanto sucesso em tão pouco tempo. Antes do fim dos 70, ele já era uma febre internacional, com altos índices de audiência em praticamente toda a América Latina, na Espanha e nos Estados Unidos. “Não esperava nem sonhava com isso”, disse Bolaños à Flashback. Os cerca de 1 300 episódios existentes de Chaves, Chapolin e outros personagens de Chespirito já foram comercializados para mais de 80 países. Em 1977, o elenco de “Chaves” realizou o que poucas bandas de rock conseguiram. No Chile, os atores apresentaram-se para 160 mil pessoas em dois shows num só domingo, no estádio Nacional de Santiago. Na argentina, chegaram a fazer 14 apresentações seguidas, para um total de 350 mil pessoas. A Televisa está rindo até hoje com o sucesso internacional de Bolaños. Além de continuar a reprisar seus programas com boa audiência (diariamente, às 16h) e vender os episódios por preços cada vez mais altos, ela ganha dinheiro na venda de produtos com os personagens dele. Em 2005, a United Media, empresa de licenciamento que também representa as marcas de Charlie Brown e Dilbert, adquiriu os direitos de “Chaves” os EUA. Motivada pela venda de mais de 500 mil DVD’s do programa, ela já lançou uma grife de roupas do personagem e negocia outros produtos. “A marca Chaves vende muito bem no México e temos bons indicadores de que o interesse vai ser assim nos EUA”, diz Mary Rotter, diretora de licenciamentos da Televisa. Apesar de o negócio não ter fim, Bolaños largou a TV há dez anos. Em 1979 foi gravada a última temporada de “Chaves” e “Chapolin”. Mas os dois seguiram como quadros de “Chespirito”, que voltou em 1980 e foi gravado até 1995, com outros personagens antigos e alguns novos. A trupe de Chaves chegou a fazer um filme em 1979, “El Chanfle”, escrito e estrelado por Bolaños. A produção foi um sucesso de bilheteria e teve uma continuação em 1982. No cinema, ele também produziu seis longas metragens, entre 1996 e 1999, como diretor da Televicine – braço cinematográfico da Televisa. Ainda nos anos 90, escreveu e atuou na peça “11 y 12”, que permaneceu em cartaz por sete anos e bateu recordes de bilheteria em seu país. E hoje, apesar de alguns problemas de saúde – tem diabetes, um pouco de surdez e enfisema pulmonar – continua escrevendo. Agora, livros. A estréia na carreira literária foi com um livro de poemas, em 2003. E no ano passado publicou “El Diario del Chavo del Ocho”, que conta a história de Chaves sob o ponto de vista do personagem. Best seller no México, seu lançamento está sendo negociado no Brasil. Ele também tem uma autobiografia pronta, que só não foi lançada para não competir com “El Diario”. Agora, ele se dedica às viagens para divulgação do livro e à família. Uma grande família. Bolaños mora há 28 anos com a atriz Florinda Meza, 57, a Dona Florinda do Chaves. O casal tem um filho. E ele ainda tem outros cinco do primeiro casamento. Doze netos completam o clã. E o Brasil? Nem tudo foi moleza na trajetória do homem. Depois de Chespirito conquistar toda a América hispânica e parte dos EUA, faltava o Brasil. E isso quase não aconteceu. Em 1981, Silvio Santos negociava com a Televisa a aquisição de um pacote de novelas. Para fechar o negócio, a emissora mexicana exigia a compra – e exibição – de episódios de “Chaves”, “Chapolin” e outros esquetes do programa “Chespirito”. Silvio mandou dublar dez episódios e pediu à sua diretoria que analisasse o programa em casa. Queria conhecer a opinião deles antes de comprá-los, ou não. O veredicto dos diretores foi o mesmo: um programa antigo, com cenário pobre, iluminação terrível e um senhor de 40 anos vestido de criança não daria certo em nenhum horário da programação. Todos vetaram “Chaves”. Mas Silvio preferiu não dar ouvidos e comprou o programa. “Acho que o dono dessa emissora é um cara esperto e não ‘contavam com a sua astúcia’”, disse Bolaños à Flashback, quando soube da história. Não foi preciso muito tempo para mostrar que Silvio acertara em sua decisão. As dublagens começaram em 1983 e em 24 de agosto de 1984 “Chaves” estreou no Brasil, no programa do Bozo. Segundo a emissora, “Chapolin” estreou antes, no dia 20. Três anos depois, os programas de Chespirito ganharam horários independentes na grade. A essa altura, exibidos na hora do almoço, “Chaves” e “Chapolin” chegavam a superar a audiência da Globo. Em 2001, quando Ana Maria Braga estreou na emissora de Roberto Marinho na parte da tarde, Silvio colocou Chaves no mesmo horário. E a mulher perdeu para o garoto do barril sistematicamente. Restou à Globo colocar Ana Maria de manhã. Chaves já contabiliza 21 anos no ar por aqui, com breves interrupções. E fechou o ano passado com 12 pontos de média, segundo o Ibope. Audiência maior que a de estrelas do SBT, como Adriane Galisteu, Ratinho e Ana Paula Padrão. Graças a isso, a emissora renovou o contrato com a Televisa mesmo depois de a empresa mexicana fazer um leilão com a Globo e superfaturar o valor do contrato de exibição. Mesmo com essas demonstrações de força, “Chaves” ainda encontra dificuldades no Brasil. Em 2003, os colegas de faculdade Luís Joly, Fernando Thuler e Paulo Franco escolheram a turma da vila como tema de seu trabalho de conclusão no curso de jornalismo. Quando notaram que não havia nenhuma publicação sobre o programa ou sobre Bolaños no país, eles decidiram lançar um livro. Durante dois anos, bateram à porta de mais de 50 editoras e, mais estranho ainda, nenhuma editora apostou no projeto. Até que, em 2005, a Editora Matrix resolver e o livro “Chaves – Foi Sem Querer Querendo?” precisou de menos de um mês para entrar nas listas dos mais vendidos, por onde ficou durante dez semanas. Uma história parecida precedeu o lançamento de um box de DVD’s de “Chespirito”, em dezembro de 2005. O estudante e fã de carteirinha Bruno Sampaio descobriu que a Televisa tinha lançado DVD’s de “Chaves” no exterior. Ele pesquisou o contato de todas as distribuidoras de DVD’s do país e mandou e-mails cobrando uma versão brasileira. Paulo Duarte, da Amazonas Filmes, respondeu um e-mail agradecendo a sugestão. E só. “Duas semanas depois mandei outro e-mail perguntando quantas pessoas tinham respondido”, conta Duarte. Para sua surpresa, ele foi o único. “Quando soube que as distribuidoras maiores não se interessaram, fui atrás da Televisa”. Confiando no potencial do produto, Duarte negociou com a emissora um projeto ambicioso: lançar oito caixas com três DVD’s cada, com episódios raros e inéditos no Brasil, de todos os personagens de Chespirito. Mas até Silvio Santos, o padrinho brasileiro de “Chaves”, já subestimou o poder do programa. Em 2003, já contabilizava 19 anos no ar e ele resolveu parar de exibi-lo, sem muita explicação. Mas não sem resposta. De cara, a emissora recebeu milhares de e-mails e telefonemas de fãs revoltados. E, em duas semanas, ele voltou. A reação serviu para mostrar outro lado da força de Chaves: os fãs-clubes. O estudante Eduardo Gouvêa, de 20 anos, conta que aos 9 anos seu maior problema na escola era o horário. Quando “Chapolin” começava, às 12h, ele já estava pronto, almoçando em frente à TV. Só que “Chaves” começava às 12h30 e era impossível ver o episódio até o final e chegar à sala de aula às 13h, pontualmente. Claro que ele preferia se atrasar e mais tarde levar uma bronca da mãe. O tempo passou, Eduardo tem hoje 20 anos, grava os episódios para evitar problemas e há três anos comprou um computador. A primeira coisa que ele fez quando se conectou à internet foi ver se tinha mais alguém que gostasse das suas séries preferidas. “Eu achava que era o último fã do Chaves”, diz. Claro que ele estava errado. Fãs como ele começaram a se conhecer pela internet e constituir os primeiros sites e fã-clubes sobre o assunto. Os primeiros grupos começaram a se organizar para pedir a volta de “Chapolin”. Ao contrário de seu colega da vila, o Polegar Vermelho perdeu algumas batalhas e entrou e saiu da programação várias vezes. A cada desaparecimento, a organização das milícias aumentava em torno de uma corrente “Volta, Chapolin”. Hoje existe na rede uma multiplicidade de sites, fóruns, fãs-clubes e todo tipo de comunidade real e virtual. Só no orkut, são mais de 2 mil comunidades de Chaves, Chapolin, Seu Madruga (um dos mais populares) e outros personagens da turma, todas em português. Em 2004, aconteceu o primeiro encontro formal de um fã-clube, no Rio de Janeiro. Hoje, os eventos são regulares e estão sempre cheios de gente que se reúne para ver episódios inéditos, participar de concursos de fantasias, conhecer os dubladores brasileiros e até mesmo os outros fãs. O último Chavesmania aconteceu em novembro, no Rio de Janeiro e reuniu 800 pessoas. Em São Paulo, onde a audiência do SBT sempre foi maior, o Festival da Boa Vizinhança reuniu 1 650 pagantes em um colégio alugado para o evento. E a Polícia Militar ainda precisou vir para acalmar uma fila de cerca de 6 mil pessoas que não conseguiram entrar. Elas protestaram atirando os alimentos que trouxeram para doação e xingando “Gentalha! Gentalha!”. O dublador Carlos Seidl, a voz brasileira de Seu Madruga, está na profissão há 27 anos e nunca viu isso antes. “Quando me convidaram para os primeiros encontros, eu estranhava. Que interesse poderiam ter por um dublador?”, diz. “Eu me impressionava que o programa continuasse no ar por tanto tempo. Mas nesses encontros é que eu fui ter noção do sucesso de Chaves”, conta Seidl, que é tratado pelos fãs como uma verdadeira celebridade, posando para fotos e distribuindo autógrafos. “Quando criei o fã-clube, pensei em uma comunidade de amigos que, além de informações sobre ‘Chaves’, se conheceriam ao vivo. E ele realmente criou muitas amizades”, diz o estudante de jornalismo Gustavo Berriel, 22 anos, presidente do fã-clube Chespirito Brasil. E não só amizades. Dia 10 de dezembro Vinícius e Neiva casaram-se em São Paulo depois de se conhecerem nas reuniões de fãs. Tinha de ser o Chaves, mesmo.
Matéria publicada na edição 10 da revista Flashback, especial da Superinteressante, de dez/2005 . Ó Walll!!!

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