INAUGURAÇÃO DO BLOG

05 de JULHO de 2010

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Estervalder Freire dos Santos - Ó Wall; sou blogueiro desde 2010. Terminei o Ensino Médio em 1988, não tenho Ensino Superior, Criei o Blog Só Pudia Ser Ó Wal com a ajuda dos amigos: Cristiane Sousa, Ibermon Macena, Jackson Douglas, Junior Cunha e Rodrigo Viany. Sou totalmente eclético só para expor minhas ideologias.... O blog possuí muitos textos, mas nada especifico, acredito que sejam um pouco de tudo e pouco do nada, mas também há outros. Divirta-se.

domingo, 6 de janeiro de 2013

A Cliente

...Estavam todos na sala de reuniões. Esta já era a terceira apresentação em duas semanas. Marcelo passava os slides enquanto Vanessa, sua cliente, assistia impassível. Desde que a conhecera ele sabia que este seria um cliente difícil. Vanessa lhe pareceu grossa e mal-humorada. Sua intuição lhe dizia que, apesar de importante para a agência, este cliente traria mais dor-de-cabeça do que lucro. Terminada a apresentação, ela decretou: - Patético – disse enfática. Marcelo passara dias e noites inteiras dentro da agência na tentativa de melhorar as peças apresentadas anteriormente, todas recusadas. O trabalho de um mês, todo perdido. Em todas as reuniões e enquanto fazia suas apresentações ele olhava fixamente para Vanessa, na esperança de que ela esboçasse alguma reação. Nada. A única interação foi a fatídica palavra ao fim da apresentação: “patético”. A resposta reverberou em sua mente durante toda a tarde. Desde que fora contratado como estagiário ele sempre tinha as melhores idéias. Todos o consideravam brilhante, o garoto prodígio. Mas esta campanha havia saído ao seu controle. Não havia mais para onde evoluir. As idéias ficaram escassas. Agradar a este cliente estava se tornando uma questão pessoal, de honra. Quando saiu da agência, pouco depois de anoitecer, Marcelo foi direto para o bar. Sentia calor. Pediu um chopp e afrouxou o nó da gravata. Pensava na reunião, nas noites sem dormir. O chopp estava no ponto, geladíssimo. Tão logo terminava um já pedia outro. Sentiu vontade de ir ao banheiro. Quando levantou da mesa o celular tocou. Era Guilherme, seu chefe. Marcelo já sabia do que se tratava. Estava despedido. Este fora um dia ruim, um dia que marcaria a sua vida para sempre. Mas agora, sem emprego, sabia que não esqueceria este episódio tão cedo. Não sentia mais vontade de beber, o chopp não descia. Saiu do bar, entrou no carro e saiu dirigindo, completamente embriagado. Dirigiu por mais de uma hora e, quando percebeu, estava no bairro de Vanessa. Marcelo queria se vingar mas sabia que não poderia sequer chegar perto da entrada da casa dela, sempre vigiada. Ele estacionou o carro em uma rua próxima para se recompor. Alguns minutos depois desceu do carro, colocou o paletó e ajeitou o nó da gravata. Fez o possível para disfarçar a embriaguês. Ao contrário do que pensava, não havia vigias e nem seguranças. A própria Vanessa atendeu ao interfone. Tão logo Marcelo se identificou ela abriu a porta, sem pedir explicações. Assim que passou da porta Marcelo sentiu um nó no estômago. Relembrou de todo o esforço, não só o seu mas também o de toda a equipe. - Estou aqui em cima – gritou Vanessa de cima das escadas. – Espero que seja importante. - É importante, sim – exitou. – Tive uma boa idéia para sua peça. Me dê só um minuto, preciso ir ao banheiro. - Não esqueça de lavar as mãos – disse rispidamente. Marcelo não foi ao banheiro. Antes de subir examinou todos cômodos da casa, um a um. Ninguém. Subiu as escadas calmamente e encontrou Vanessa em um dos quartos lendo um livro com a TV ligada. - Não tenho o costume de trazer trabalho para casa. Seja breve – disse sem tirar o olho do livro. - Para começar, gostaria de um pouco de sua atenção. - Ora, meu rapaz, mostre logo o que tem para mostrar. - Bom… – disse, caminhando em direção à Vanessa – Tive uma idéia para os outdoors. Uma idéia fantástica. Uma peça realmente agressiva, visceral. Marcelo gesticulava como quem mostra uma paisagem. Uma das mãos materializando sua idéia, a outra mão oculta atrás do corpo. - Espero mesmo que tenha melhorado suas idéias. Vamos, não precisa fazer suspense. Deixe-me logo ver o que tem em mente – disse apontando para a mão escondida. - Sei que nem todos vão gostar – ele continuou, ignorando Vanessa – Mas tenho certeza de que esta peça pode chamar a atenção para qualquer produto, do mais fino ao mais grotesco. Quando estava a um passo de Vanessa ele tirou a mão de trás do corpo. Não eram esboços. Ele segurava uma faca. A lâmina refletindo o olhar de pânico no rosto de Vanessa. Ela não teve tempo de reagir. Quando tentou se levantar sentiu a lâmina penetrando em sua barriga com um baque surdo. No bairro de casas grandes e ruas desertas o silêncio dominava a noite. Não houve gritos e nem pedidos de socorro. Marcelo saiu da casa de Vanessa horas depois, mas ainda antes do amanhecer. Esperou acordado até as dez da manhã, quando ligou para seu ex-chefe. - Guilherme? Bom dia. Só quero informar que enviei o material da nova peça para o seu email. Já está aprovado pelo cliente. Sim. Sim. Trabalhei durante toda a noite – e desligou. Uma semana depois, todos observavam perplexa, uma nova campanha publicitária nos outdoors espalhados pela cidade. Neles viam-se braços e pernas amputados ostentando pulseiras e tornozeleiras. Na avenida mais movimentada estava a peça principal, a jóia mais cara da coleção. Na foto podia-se ver um colar e um pingente em ouro maciço, com diversos diamantes incrustados. Ao lado, a cabeça decepada de uma mulher, Vanessa, o seu tronco disposto logo atrás sobre uma poça de sangue coagulado. A cena de sangue e violência, o horror, chamava e prendia a atenção de quem quer que a visse. O brilho, a leveza e a beleza das jóias se ressaltavam diante da imagem abominável. Era exatamente o que Vanessa queria. Marcelo era realmente brilhante. Ó Wal!!!

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