Por: António Guerreiro
Um dos motivos psicopolíticos fundamentais do nosso tempo é aquele de onde emerge a palavra “mentira”, em torno da qual se organiza grande parte da subjectividade política. E o que anima esta subjectividade nem é já o ressentimento nem a decepção, aquela “raiva de ter sido enganado” que George Grosz disse ser a disposição cínico-reflexiva da sociedade da República de Weimar e que permitiu a Hitler chegar ao poder prometendo a erradicação da mentira. O que a anima é, antes, algo menos agónico, uma “tonalidade epocal” responsável por um forte niilismo eleitoral. De certo modo, governar e mentir sempre foram sinónimos. Há quem afirme, com preceitos de sabedoria antiga, que assim é porque a verdade dos soberanos foi sempre diferente da vontade dos servos. Mas da defesa que Platão faz das “nobres mentiras” até à formulação muito eufemística de Hannah Arendt, segundo a qual “ninguém duvidou alguma vez de que é difícil a relação difícil entre verdade e a política”, persistente é o discurso teórico e doutrinário que nos fala das mentiras como instrumentos legítimos da profissão política. A experiência dos totalitarismos dos século XX ministrou uma lição: os regimes totalitários são fundados no primado da mentira. É uma conclusão que tanto inspirou George Orwell como Alexandre Koyré, o autor de The Political Function of the Modern Lie. Entre nós, deu-se nos últimos tempos um fenómeno discursivo de alguma importância: acusar um político de ser mentiroso deixou de ser uma prerrogativa da linguagem da “rua” e entrou sem cerimónias nas disposições do debate político. Tornou-se um argumento usado nas instâncias que, até há pouco, nunca tinham descido abaixo das “inverdades”, na escala das virtudes políticas. Isso não se deve a um recrudescimentos da mentira (Koyré é muito claro quanto à época em que se dá a hipertrofia da mentira:
Ó Wall!!! Continua...
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05 de JULHO de 2010
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