Por: Martins da Cachoeira
Quando criança vivia correndo atrás de pipa. Quando amanheci o dia, acordava por volta das 5h da manhã, pegava dois balde de tintas usados e ia buscar água na parte de cima da antiga Favela da Cachoeira, isso por que do lado da favela onde morava, não tinha água encanada. Todo dia a mesma coisa, tinha que encher duas formas e 3 tonéis de metal. Depois da labuta do dia a dia, pegava minha latinha de leite, rodeada com linha de costura e ia soltar minha pipa perto de casa onde minha mãe pudesse me ver. As vezes minha pipa era feita só com papel e linha, outras vezes era feita com papel de ceda, linha e palito de coco, mas a diversão era a mesma. A pipa e o peão eram os dois instrumentos de diversão que tínhamos na favela, pois além da alimentação do dia a dia, faltava brinquedos e área de esporte e lazer. Por isso fazia a pipa com papel, palito de coco, linha e o velho cerol. O cerol era feito com pó de ferro ou caco de vidro para cortar a linha de outro menino que colocava a pipa no ar invadindo o meu espaço. O perigo estava no poder cortante que o cerol dava a linha. Muitas crianças tiveram parte do corpo cortado e dedos mutilados. Sem falar nas pessoas que passavam por onde os meninos estavam soltando suas pipas e eram atingidos pelas linhas cortantes. Mesmo assim a diversão não parava, a pipa continuava no ar. Sempre cantava:"Têm linha fina, têm linha grossa, como meu cerol, não há quem possa! Há, há,há minha pipa ta no ar!..." Essa era a música que sempre cantava ao fazer a pipa subir com o vento forte. Quando o vento não vinha, assoviava e as vezes cantava para o vento vir:"Chega vento catimbozeiro se não vier é caloteiro!" Assim cantava esperando o vento vir em clima de sentimento transcendental, como se minha voz e assovio tivesse poderes mágico. Os fios de eletricidade baixos atrapalhava a diversão, então, fugia de casa para ir atrás de pipa nas proximidades da Favela da cachoeira. O ruim de tudo, era quando me deparava com a PM que quebrava minha pipa, tomava a lata de linha e amassava na minha cabeça. Os PM's desciam da viaturas armados, com armas de fogo e cassetetes em punho. Era moleques correndo para todo lado, porque eles (PM's) batiam na gente e tomava nossa linha para evitar que a pipa enganchasse nos fios de energia elétrica ou cortasse o pescoço de ciclistas, pedestres e motoqueiro que por ali passava. Era entre os bairros do Catolé, José Pinheiro, Monte Castelo, Nova Brasília e Santo Antônio, em Campina Grande, na Paraíba. Na época operava o Regime Militar e criança na periferia tinha medo de policia, hoje se solta pipa de forma desordenada e ninguém tenta educar as crianças e adolescente para evitar acidentes. Hoje, depois de muitos anos, a pipa ainda é uma forma de descontração e de diversão para filhos de pobres, já que o único instrumento do estado na periferia é a policia para reprimir os pobres que não tem academia esportiva nem área de lazer para poder soltar sua pipa sem por em risco a vida de quem passa. Ó Wall!!!
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05 de JULHO de 2010
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sábado, 30 de janeiro de 2016
Pipa: Diversão e perigo
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Unknown
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10:28
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