INAUGURAÇÃO DO BLOG

05 de JULHO de 2010

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Estervalder Freire dos Santos - Ó Wall; sou blogueiro desde 2010. Terminei o Ensino Médio em 1988, não tenho Ensino Superior, Criei o Blog Só Pudia Ser Ó Wal com a ajuda dos amigos: Cristiane Sousa, Ibermon Macena, Jackson Douglas, Junior Cunha e Rodrigo Viany. Sou totalmente eclético só para expor minhas ideologias.... O blog possuí muitos textos, mas nada especifico, acredito que sejam um pouco de tudo e pouco do nada, mas também há outros. Divirta-se.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Pica-Pau - 5ª Parte

O Mensageiro. Continuando... Na manhã imediata, o engenheiro acreditava que o servidor estivesse longe, mas, com surpresa, viu Pica-Pau abeirar-se dele, de rosto inchado, a trazer-lhe calmamente a bandeja do café. Dona Margarida, a arrumadeira, ao vê-lo assim, perguntou, admirada:
- Mas Pica-Pau, onde é que você arranjou esse rosto?
- Dor de dentes, Dona Margarida...
- Dor de dentes, na sua idade? - voltou ela, irônica.
- É sim, senhora... Ainda tenho alguns cacos...
A discrição e a humildade de Pica-Pau comoveram o Dr. Crisanto, que mostrou expressiva melhora.
Depois de dois meses, no entanto, quando já se achava em vésperas de buscar a esposa e o filhinho recém-nato, o engenheiro voltou às noitadas alegres. Pica-Pau notou o perigo, mas não se mexeu.
O serviço esperava a visita de varias autoridades, quando o Dr. Crisanto, certa noite, foi procurado no bar por Pica-Pau. O pobre dizia-lhe, inquieto:
- Doutor, com o pagamento atrasado há dois meses, os operários estão acusando o senhor e planejam uma cilada...
O engenheiro riu-se, francamente.
- Que cilada?
- Querem dinamitar a ponte em construção... É preciso salvar o nome do senhor... O pessoal não tem razão...
O Dr. Crisanto desferiu gargalhada irritante e observou:
- Suas mentiras, Pica-Pau, não pegam mais... Ponha também a sua bomba...
O portador fez uma expressão de amargura e regressou, coxeando, coxeando...
Não havia, porém, decorrido duas horas, quando pequena comissão veio de jipe, à procura do chefe, com a dolorosa notícia. Pica-Pau, ao tentar o salvamento da grande construção sobre o rio, conseguira preservar a ponte, mas sofrera terrível acidente: ao arrastar a banana explosiva colocada na edificação por mãos criminosas, verificara-se o estouro e teve os braços decepados, além de ferimentos por todo o corpo. Horrivelmente surpreendido, o Dr. Crisanto voltou à pressa.
Trazido em padiola improvisada, Pica-Pau estava no telheiro em que se acolhia. A cama pobre empapava-se de sangue, embora os primeiros curativos tivessem sido feitos. Arrasado de dor, o engenheiro compreendeu a gravidade da situação. Trancou-se no recinto humilde com o ferido, que pousava nele os grandes olhos, e rogou:
- Pica-Pau, perdoe-me pelo amor de Deus! Como não pude compreender você a tempo?!...
- Ora, doutor, não pense nisso! – respondeu o mutilado em voz sumida – tudo está bem...
- Não! Não! Punirei os culpados!
- Não faça isso! Desculpe sempre, doutor... Ninguém é mau porque deseje...
- Mas foi um crime...
- Ora, doutor, quem pode julgar? – falou o acidentado, com voz doce, como se quisesse acariciar o chefe com a palavra, já que não podia fazê-lo com as mãos. – Às vezes, quem colocou a dinamite na ponte é um homem doente... obsidiado... é preciso perdoar...
O Dr. Crisanto não teve coragem de prosseguir exasperado, e perguntou, emocionado:
- Que quer você que eu faça, Pica-Pau?
- Doutor, se o senhor puder, leia para mim uma página do Evangelho... Estou agora sem braços...
O engenheiro tomou o livro semi-gasto, e, abrindo na parte final, fez a leitura, entre lágrimas copiosas:
“Meu Deus, és soberanamente justo. O sofrimento, neste mundo, há, pois, de ter a sua causa e a sua utilidade. Aceiro a aflição que acabo de experimentar, como expiação de minhas faltas passadas e como prova para o futuro. Bons Espíritos que me protegeis, dai-me forças para suportá-la sem lamentos. Fazei que ela me seja um aviso salutar; que me acresça a experiência; que abata em mim o orgulho, a ambição, a tola vaidade e o egoísmo, e que contribua para o meu adiantamento”. Pica-Pau aquietara-se, muito calmo, mas o Dr. Crisanto, à maneira de louco, providenciou o resto da noite e, no dia seguinte, pela manhã, tomou o avião de serviço e rumou com o mutilado para o Rio, tentando salvar-lhe a vida. Ó Wall!!! Continua...

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