O Mensageiro. Continuando... Era mais de meio dia, quando Pica-Pau deu entrada no grande hospital carioca em que seria submetido a tratamento. Dois médicos amigos do Dr. Crisanto, no entanto, abanaram a cabeça, depois de minuciosa inspeção. O ferido avizinhava-se do fim. Agoniado, o engenheiro foi à procura da família e contou à esposa e a velha mãezinha, Dona Maria Cecília, os sucessos amargos. Ambas quiseram testemunhar carinho ao herói, E, nas primeiras horas da noite, o trio se dirigia para o confortável quarto em que Pica-Pau encontrara acolhida régia.
Na luz indireta que clareava frouxamente o recinto, Dona Moema foi a primeira a cumprimentá-lo.
- Então, Pica-Pau – falou, emocionada -, quando voltarmos, teremos mais alguém... Você vai ajudar-me a velar por nosso rapaz, que já estará crescidinho...
Ele voltou os olhos muito abertos e respondeu, lúcido:
- Oh! Sim... um belo menino... Deus o abençoe...
Em seguida, o Dr. Crisanto apresentou-lhe a sua velha progenitora. A encanecida senhora começou a dirigir-lhe palavras de consolo; entretanto, ao sentir-lhe a fixidez do olhar profundo, desconcertou-se, pouco a pouco, e emudeceu em pranto. Ele, porém, com serenidade indescritível, passou a dizer, com muito esforço:
- Sim, Cecília, você não precisa perguntar... Sou eu mesmo... Pedro... Pedro, que você não vê há trinta anos... Deus escutou minhas preces... Não queria morrer sem nosso encontro... Perdoe por todos os males... que causei a você... Eu era moço, Cecília... Moço e ignorante... Viciei-me em bebidas e esqueci o lar... humilhando você... Você tinha razão, não me querendo mais... Mas creia que piorei perdendo você... Você foi o único amor de minha vida... Perdoe tudo... Mudei muito, Cecília... Um dia... alcoolizado... fui vítima da maldade de alguns rapazes que me atearam fogo às vestes... Tratado num hospital, aí conheci a Doutrina Espírita, que reformou minha vida... Passei a ser outro homem... Todavia, não tive coragem de procurá-la... Fiquei deformado... irreconhecível... Mas consegui seguir o nosso Crisanto nos últimos tempos... Continue vivendo para ele, Cecília... Eu, agora... estou no fim... Mas a vida prossegue depois da morte... Um dia, Cecília, no mundo sem lágrimas, serei para você o que devo ser... Confiemos em Deus... Entretanto, fosse pelo esforço enorme ou porque o Espírito do acidentado julgasse terminada a sua tarefa entre os homens, a cabeça de Pica-Pau tornara-se imóvel. Grossas lágrimas, a se lhe escorrerem dos olhos, agora desmesuradamente abertos, misturavam-se ao suor álgido... Dona Maria Cecília, ajoelhada, em pranto silencioso, beijou-lhe a testa suarenta e Pica-Pau sorriu pela última vez. O Dr. Crisanto, emocionado, tocou o braço materno e falou:
- Mas, mamãe, que houve?
A nobre senhora, no entanto, após cobrir carinhosamente o corpo hirto, pôde apenas responder, entre soluços:
- Este homem, meu filho, é seu pai...
(O Mensageiro). Ó Wall!!! FIM
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segunda-feira, 6 de abril de 2015
Pica-Pau - 6ª Parte
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Unknown
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14:26
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